As disparidades mais graves relacionadas às questões raciais e ao desempenho em língua portuguesa e matemática concentram-se no 9º ano.
Nesta segunda-feira (28), Dia Mundial da Educação, a organização Todos Pela Educação e o Instituto Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) divulgam uma nova série de dados sobre o estágio da aprendizagem na educação básica brasileira.
O estudo indica que a aprendizagem ainda não retornou aos níveis pré-pandemia. As desigualdades educacionais, já existentes em 2019, foram agravadas, sobretudo no tocante às questões étnico-raciais: entre 2013 e 2023, as diferenças no desempenho de estudantes pretos, pardos e indígenas aumentaram em relação aos estudantes brancos e amarelos.
As conclusões estão no relatório “Aprendizagem na Educação Básica: situação brasileira no pós-pandemia”. O material é baseado nos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que analisa o rendimento dos alunos do 5º e 9º anos do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio, em escolas públicas, nas disciplinas de língua portuguesa e matemática.
Embora alguns indicadores mostrem avanços no aumento do percentual de estudantes com aprendizagem adequada, persistem — e, em muitos casos, ampliaram-se — as desigualdades educacionais.
Baixo desempenho de aprendizagem
As maiores discrepâncias raciais aparecem no 9º ano. Em 2023, 45,6% dos alunos brancos e amarelos alcançaram o nível adequado em língua portuguesa, enquanto entre pretos, pardos e indígenas o percentual foi de 31,5% — uma diferença de 14,1 pontos percentuais. Em 2013, essa distância era de 9,6 pontos. Em matemática, a defasagem entre os grupos aumentou 2,4 pontos percentuais.
No 5º ano do fundamental, a tendência se repete: a diferença em matemática subiu de 8,6 para 9,5 pontos percentuais. Em língua portuguesa, a desigualdade aumentou em 0,3 ponto.
No ensino médio, a desigualdade racial em língua portuguesa também cresceu, com aumento de 2,9 pontos percentuais em uma década. Em matemática, apesar dos resultados continuarem baixos, houve uma discreta redução na disparidade.
Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação, destaca que o cenário é de grande preocupação. “Há conquistas que devem ser reconhecidas, mas o quadro geral ainda revela muitos estudantes com aprendizagens extremamente baixas. A pandemia agravou essa situação e torna ainda mais premente a necessidade de iniciativas públicas voltadas à correção dessas lacunas, muitas vezes em competências básicas não desenvolvidas”, afirma.
Ele ressalta que o foco na equidade é imprescindível. “É inaceitável que, em uma década, o país não tenha conseguido reduzir de forma significativa as diferenças de aprendizagem entre estudantes de diferentes origens raciais e socioeconômicas”, conclui.
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