O Nobel da Paz Muhammad Yunus se comprometeu nesta quinta-feira (8) a restabelecer “a lei e a ordem” em Bangladesh, em seu retorno ao país para dirigir um governo interino após a fuga da primeira-ministra Sheikh Hasina.
“Não podemos dar um passo adiante a menos que solucionemos a situação da lei e da ordem”, disse o economista de 84 anos à imprensa em seu retorno a Bangladesh.
Muhammad Yunus foi anunciado pela Presidência de Bangladesh como líder de um governo interino na terça-feira (6). A escolha dele foi uma exigência dos líderes estudantis que comandaram os protestos que levaram à renúncia de Hasina.
“O país tem a possibilidade de se tornar uma nação muito bonita. Seja qual for o caminho que nossos estudantes nos mostrarem, seguiremos em frente. Nós tínhamos acabado com essas possibilidades, agora novamente temos que nos levantar. Para os oficiais do governo aqui e chefes de defesa: nós somos uma família, devemos seguir em frente juntos”, falou.
Horas após sua chegada ao país, Yunus prestou juramento e tomou posse oficialmente como chefe do governo interino, na residência oficial do presidente Mohammed Shahabuddin.
Yunus foi vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2006 e é conhecido por ter tirado milhões de pessoas da pobreza através da concessão de microcréditos, iniciativa pela qual também recebeu, em 1988, o Prêmio Príncipe de Astúrias da Concórdia.
“Me comove a confiança dos manifestantes que desejam que eu esteja à frente do governo interino. Sempre mantive a política à distância, mas hoje, se for necessário agir em Bangladesh, pelo meu país e pela coragem do meu povo, então o farei, disse Yunus em uma declaração quando o anúncio de sua escolha para comandar o governo de transição foi feito.
Crítico severo de Hasina, Yunus, que tem 84 anos, chegou a Dhaka vindo de Paris, onde estava fazendo um tratamento médico.
A renúncia da primeira-ministra
Sheikh Hasina, de 76 anos, estava no poder há 15 anos, mas seu último mandato como primeira-ministra, que começou em janeiro, foi marcado pelo boicote da oposição às eleições, que as denunciou como nem livres nem justas.
Hasina acabou renunciando e fugiu do país nesta segunda-feira (5), sob pressão de uma onda de protestos que começou no início de julho com um movimento estudantil contra um sistema de cotas para funcionários, mas que evoluiu para uma mobilização mais ampla contra o governo.
Desde o início das mobilizações, pelo menos 432 pessoas morreram, segundo um levantamento da AFP baseado em relatórios da polícia, autoridades e médicos em hospitais, e que terminou com a fuga de Hasina em um helicóptero.
Na segunda-feira, os distúrbios e confrontos deixaram pelo menos 122 mortos e, apesar de a situação ter se tornado menos tensa nesta terça, com a reabertura do comércio e o levantamento do toque de recolher, houve o registro de 10 mortes.
No final desta segunda-feira, o chefe de Estado ordenou a libertação das pessoas detidas durante as manifestações e da principal rival política de Hasina, a ex-primeira-ministra Khaleda Zia, do BNP, que esteve anos em prisão domiciliar.
Em um comunicado publicado nesta terça-feira, o principal sindicato da polícia pediu “desculpas” por ter disparado contra estudantes. A federação afirmou que os policiais foram obrigados a “abrir fogo” contra os jovens e que, depois, foram apresentados como os “vilões”, e também anunciou uma greve para garantir a segurança dos efetivos.
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