A moeda brasileira figura como a quarta com maior valorização frente ao dólar no acumulado deste ano, segundo levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating, que analisou o desempenho cambial de 118 nações com base em dados fornecidos pelo Banco Central (BC).
Nesta terça-feira (13), a valorização do real atingiu 10,1%, refletindo a cotação do dólar em R$ 5,60. De acordo com o estudo, 72 moedas apresentaram algum nível de valorização no período analisado.
O rublo russo lidera o ranking com uma valorização de 34,2%. Logo em seguida, aparecem o cedi ganês (16,6%) e a coroa sueca (13,5%), que superaram o real em desempenho.
📊 Classificação das moedas mais valorizadas:
Na cotação comercial desta terça-feira, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,6086. Contudo, a Austin Rating adotou como critério as taxas médias Ptax, calculadas e publicadas diariamente pelo BC, que apontaram o dólar a R$ 5,6256.
O estudo também revelou que 20 moedas mantiveram estabilidade frente à divisa norte-americana em 2025, enquanto 26 sofreram desvalorização. Entre essas estão o peso argentino (-8,3%), o dinar líbio (-11%) e o bolívar soberano da Venezuela, que apresentou o pior desempenho com queda de 44,2%.
📉 O que justifica o recuo do dólar frente ao real?
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, identificou quatro fatores determinantes para o fortalecimento recente da moeda brasileira, especialmente nos últimos dias. Veja a análise:
1️⃣ Menor percepção de risco global
O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, optou por manter inalterada a taxa básica de juros em suas três últimas reuniões, mantendo-a entre 4,25% e 4,50% ao ano — níveis considerados elevados na comparação histórica.
Nesta terça, o índice de preços ao consumidor (CPI) dos EUA ficou abaixo das projeções, alimentando expectativas de corte nas taxas ainda este ano, o que favoreceu moedas emergentes como o real.
“Já se nota uma aproximação da inflação com a meta do Fed, o que gerou otimismo entre os investidores em relação a possíveis reduções nos juros já em julho”, afirmou Agostini.
2️⃣ Acordo comercial entre EUA e China
Na segunda-feira (12), Washington e Pequim acertaram uma trégua de 90 dias nas chamadas “tarifas recíprocas”, o que foi bem recebido pelos mercados:
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As tarifas americanas sobre produtos chineses caíram de 145% para 30%;
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As taxas chinesas sobre bens dos EUA foram reduzidas de 125% para 10%.
Esse entendimento gerou alívio nos mercados, influenciando na depreciação do dólar, conforme explicou o economista.
3️⃣ Sinais de melhora no cenário fiscal brasileiro
Agostini observou uma leve melhora na percepção do risco fiscal doméstico, impulsionada por resultados fiscais recentes mais positivos do que o previsto, o que contribuiu para maior confiança dos investidores.
Apesar disso, ele alerta que o desequilíbrio das contas públicas ainda representa um desafio considerável para o governo, dificultando avanços mais expressivos em áreas como crescimento econômico, redução de juros e controle inflacionário.
“Com fundamentos melhores, seria possível ver uma bolsa mais forte e um real ainda mais valorizado frente ao dólar”, complementa.
4️⃣ Diferença entre os juros do Brasil e dos EUA
Por fim, o expressivo diferencial entre os juros brasileiros — que estão em 14,75% ao ano, o maior patamar em duas décadas — e os americanos, entre 4,25% e 4,50%, permanece como fator atrativo de capital estrangeiro.
“Esse hiato continua elevado, atraindo recursos para o Brasil, principalmente em um contexto de maior apetite por mercados emergentes”, conclui Agostini.
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