Estudo indica que práticas culturais superam genética na adaptação humana

Novo estudo mostra que a rapidez da evolução cultural está transformando humanos de indivíduos em membros de superorganismos sociais

Por Editoria Democracias

Uma dupla de pesquisadores da Universidade do Maine, nos EUA, realizou uma revisão da literatura científica na qual propõe que a evolução humana está vivendo uma transição inédita, capaz de expandir — e talvez revolucionar — a maneira como entendemos a teoria darwiniana.

No artigo, publicado recentemente na revista científica BioScience, os autores Timothy M. Waring e Zachary T. Wood explicam que, atualmente, apenas mutações genéticas e seleção natural não conseguem mais dar conta da complexidade, velocidade e escala dos desafios que os humanos estão enfrentando.

Antes consideradas um mero complemento, as práticas culturais — como a medicina, as tecnologias, a organização social e as instituições — se tornaram o principal mecanismo de adaptação evolutiva. Ou seja, “a cultura resolve problemas muito mais rapidamente do que a evolução genética”, afirma Waring em comunicado.

Para o professor de economia e sustentabilidade, “a evolução humana parece estar mudando de marcha”. Embora continue ocorrendo, conforme descrito por Darwin, ela mudou de ritmo e de mecanismo dominante. “Isso sugere que nossa espécie está no meio de uma grande transição evolutiva”, conclui.

Pesquisas anteriores sobre essa possível transição na evolução humana sempre esbarraram na complexidade da cultura adaptativa. Por isso, no estudo atual, os autores propõem um novo mecanismo teórico e verificável, explicando como diferenças entre genes e cultura podem impulsionar uma grande transição evolutiva.

A sobrevivência humana depende da saúde coletiva

Da mesma forma que o uso de óculos corrige a miopia de imediato, dispensando que a ação da seleção favorecesse apenas pessoas com boa visão, ao longo de gerações, outras dinâmicas culturais (como cesáreas e tratamentos de fertilidade) substituem aos poucos a genética adaptativa.

Isso torna o ambiente cultural mais determinante para o sucesso individual do que a mutação de alelos genéticos. O que importa mais: “os genes com os quais nasceu ou o país onde você vive?”, pergunta Waring. Hoje, as tecnologias e comunidades do país em que vivemos nos influenciam mais do que os genes herdados.

Se o discurso moderno exalta o mérito individual, a evolução mostra o contrário: para prosperar, a espécie humana depende muito mais da saúde coletiva das sociedades e de sua infraestrutura cultural. Para além da biologia, sobrevivência e reprodução tornaram-se questões sociais.

E, como a cultura opera sempre como fenômeno coletivo, Waring e Wood se apoiam em evidências antropológicas, biológicas e históricas para demonstrar que adaptações culturais vêm moldando as sociedades desde o desenvolvimento da agricultura. Esse padrão inverte as dinâmicas da seleção natural darwiniana.

Isso significa que a humanidade está passando por uma forma de “rebranding” evolutivo, no qual sua identidade se reposiciona de organismo genético para uma entidade culturalmente adaptativa, na qual medicina, educação e infraestrutura coletivas definem quem somos e como sobrevivemos.

Evolução não é do bem nem do mal

Essa ressignificação do que é ser um indivíduo, para grupos culturais que funcionam como superorganismos, ocorre ao longo da vida, desde células isoladas dando origem a organismos multicelulares até insetos sociais formando colônias ultracooperativas, como as de formigas e cupins.

Desafiando biólogos céticos sobre a possibilidade dessa transição em humanos, os autores afirmam que a cultura está reorganizando a individualidade em direção ao grupo. Para Waring, “é um sistema que se reforça mutuamente, e os dados sugerem que está se acelerando”.

Um exemplo prático do poder da adaptação cultural é a engenharia genética. Paradoxalmente, mesmo quando tentamos controlar diretamente nossos genes (retomando as rédeas do controle genético), ainda dependemos de sistemas coletivos com tecnologia avançada, infraestrutura, colaboração e conhecimento especializados.

Já planejando novas coletas de dados de longo prazo, Waring e Wood destacam que sua teoria não é aleatória, mas testável, com modelos matemáticos e computacionais em desenvolvimento. Mas alertam: evolução cultural não implica progresso garantido nem superioridade de nações.

“Não estamos sugerindo que algumas sociedades, como aquelas com mais riqueza ou melhor tecnologia, sejam moralmente ‘melhores’ do que outras”, diz Wood. “A evolução pode criar tanto boas soluções quanto resultados brutais. Acreditamos que isso pode ajudar toda a nossa espécie a evitar as partes mais brutais”, conclui.

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