O mercado de trabalho brasileiro demonstrou forte recuperação ao longo de 2024, impulsionado pela resiliência da atividade econômica. Dados da PNAD Contínua (IBGE) indicaram que a demanda por mão de obra superou a oferta, resultando em pressões salariais e sucessivos aumentos no rendimento real habitual. Essa dinâmica favoreceu o consumo das famílias e refletiu-se na taxa de desocupação anual média, que atingiu 6,6%, o menor patamar da série histórica iniciada em 2012. No trimestre móvel encerrado em dezembro, o índice caiu ainda mais, chegando a 6,2%, impulsionado pelas contratações temporárias típicas do fim do ano.
A queda na desocupação ocorreu principalmente devido ao aumento da população ocupada, que cresceu 2,6% na média anual e 2,8% no trimestre móvel até dezembro, registrando um recorde histórico. O avanço da ocupação foi liderado pelos setores de administração pública, defesa, educação e saúde (+3,8%), comércio e reparação de veículos automotores (+2,8%) e informação e atividades financeiras (+3,7%). O nível de ocupação atingiu 58,6% na média de 2024, impulsionado pelo fortalecimento do trabalho formal.
O Novo Caged confirmou que, apesar da desaceleração em dezembro, o saldo de emprego formal foi positivo ao longo do ano, impulsionado pela demanda interna. Foram criados 1,69 milhão de postos com carteira assinada, um aumento de 16,5% em relação a 2023. O estoque de trabalhadores celetistas atingiu 47,2 milhões, sendo 10,5% empregados em regimes não típicos (aprendizes, intermitentes, temporários etc.).
Todos os setores registraram saldos positivos de emprego ao longo do ano. O setor de serviços liderou com 929 mil novas vagas, seguido por comércio (+336,1 mil), indústria (+306,9 mil), construção (+110,9 mil) e agropecuária (+10,8 mil). No entanto, em dezembro, houve uma retração de 535,5 mil vagas, reflexo da sazonalidade, com destaque para o setor de serviços (-257,7 mil) e indústria (-116,4 mil).
Para 2025, projeta-se uma desaceleração no ritmo de crescimento da ocupação, em razão da moderação dos setores cíclicos, impactados pela elevação dos juros. A deterioração das condições financeiras pode restringir a demanda por mão de obra, pois os empregadores devem demonstrar maior cautela ao expandir suas folhas salariais. No entanto, a expectativa é de manutenção da taxa de desocupação em níveis historicamente baixos, o que pode levar à escassez de mão de obra em determinados segmentos, ampliando o poder de barganha dos trabalhadores e pressionando os custos produtivos e os preços.
Com a baixa ociosidade no mercado de trabalho, o rendimento real habitual cresceu 3,7% na média de 2024 e 4,3% no trimestre móvel até dezembro. O aumento simultâneo da população ocupada e dos salários impulsionou uma elevação de 6,5% na massa de rendimento real habitual na média de 2024 e 7,4% no trimestre móvel até dezembro. O crescimento econômico também favoreceu a transição para empregos de melhor qualidade, promovendo ganhos salariais para novos contratados. Além disso, a valorização do salário mínimo e o avanço no nível educacional dos trabalhadores contribuíram para o aumento da renda.
Para 2025, a previsão é de um crescimento mais moderado no rendimento real, devido aos desafios impostos pela baixa produtividade, inflação acima da meta e o impacto da sobre-educação. Ainda assim, a elevação dos salários deve superar o crescimento da população ocupada, sustentando o aumento da massa de rendimento real habitual e garantindo um impacto positivo sobre o consumo das famílias.
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