Brasília — Antes considerada apenas um nome-teste no cenário político, Michelle Bolsonaro passou a ser tratada, pela primeira vez, como uma potencial candidata à Presidência da República. O movimento representa uma guinada estratégica no núcleo bolsonarista, que antes vislumbrava para ela uma candidatura ao Senado pelo Distrito Federal.
Agora, porém, o nome da ex-primeira-dama começa a ser ventilado com mais seriedade nos bastidores do PL e de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, especialmente por conta da crescente articulação política de Michelle nos últimos dois anos, com destaque para sua atuação à frente do PL Mulher e nos palanques das eleições municipais.
Discurso ampliado e apoio conservador
Entre os apoiadores da ideia está o pastor Silas Malafaia, uma das principais vozes do campo evangélico e figura de peso no bolsonarismo. Para ele, Michelle deixou de falar apenas o “evangeliquês” e passou a se comunicar com públicos mais amplos.
“Michelle reúne o apoio dos evangélicos, das mulheres e do bolsonarismo. Ela está politicamente mais preparada. Nas pesquisas, aparece melhor posicionada que nomes como Tarcísio, Zema e Ratinho”, afirmou Malafaia.
Michelle tem participado de eventos públicos e manifestações políticas, ampliando sua retórica para além dos temas religiosos. Em discurso recente, mencionou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e até citou a fala de Gilmar Mendes sobre mães com filhos pequenos em referência ao caso de Débora dos batons, ex-mulher de Sérgio Cabral. Segundo seus apoiadores, o gesto foi visto como um sinal de maturidade política.
Celina Leão: “Ela é o rosto humano do bolsonarismo”
A vice-governadora do DF, Celina Leão (PP), também avalia que Michelle ganhou fôlego. Segundo ela, a ex-primeira-dama “tem presença nacional” e ajudou a expandir a estrutura feminina do PL, consolidando diretórios regionais em todas as regiões do Brasil.
“Ela cresceu demais e é mais conhecida nacionalmente do que o próprio PL. Tem um apelo humano forte, essencial para uma candidatura presidencial”, disse Celina.
Nos bastidores, aliados destacam que, por ser mulher, Michelle teria vantagem estratégica nos debates televisivos, já que adversários do sexo masculino precisariam calibrar o tom para não parecerem agressivos.
Obstáculos e resistência
Apesar do avanço, a candidatura de Michelle ainda não é consenso entre partidos do centro-direita e da direita tradicional. Siglas como Republicanos, PSD e MDB demonstram resistência ou preferência por outros nomes, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas — considerado mais alinhado aos interesses do mercado financeiro. Tarcísio, no entanto, já indicou que pretende disputar a reeleição em 2026.
Michelle também enfrenta desafios internos. Um deles era a relação difícil com Carlos Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, com quem protagonizou desentendimentos públicos. Recentemente, porém, ambos selaram uma trégua, especialmente após a mudança de Eduardo Bolsonaro para os Estados Unidos, alegando perseguição política.
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