A proibição do uso de celulares nas escolas, sancionada pelo governo Lula, é uma tentativa de recuperar a atenção dos alunos. No entanto, a medida ignora um fator crucial: o problema central não está nos smartphones, mas na obsolescência do modelo tradicional de ensino. A dispersão dos estudantes não ocorre por conta da tecnologia, mas sim pela inadequação das práticas pedagógicas às novas realidades.
A educação ainda opera em um modelo analógico, incapaz de cativar uma geração que cresceu imersa em estímulos visuais e interações dinâmicas proporcionadas por plataformas como YouTube, TikTok e WhatsApp. A solução, portanto, não passa apenas por restringir o uso do celular, mas por modernizar a metodologia de ensino, utilizando ferramentas digitais como aliadas na transmissão do conhecimento. O quadro-negro, estático e pouco atraente, precisa dar lugar a recursos mais envolventes, capazes de competir com a era digital.
Aulas ultrapassadas: o verdadeiro motivo da distração
Ao simplesmente vetar os celulares sem oferecer alternativas mais atrativas, as escolas apenas redirecionam o desinteresse dos alunos para outras formas de distração, como o bullying, conversas em voz alta ou dispersão geral. O problema não é o telefone em si, mas a falta de um ambiente educacional estimulante. Obrigar crianças e adolescentes a assistir a aulas no formato tradicional — com professor, aluno e meras anotações — equivale a utilizar carruagens em tempos de nave espacial.
A solução não está apenas em restringir o uso do celular como instrumento de distração, mas sim em reconhecer seu potencial pedagógico. A tecnologia pode ser uma ferramenta de aprendizado extremamente eficiente, desde que acompanhada de diretrizes bem definidas. O desafio é abandonar a era analógica e transformar o ensino tradicional em um formato mais dinâmico e envolvente — sair do teatro e virar cinema, tornando o aprendizado mais próximo da realidade dos estudantes.
Dificuldades na implementação e falta de visão estratégica
Além de ignorar a evolução tecnológica, a nova lei também desconsidera a complexidade da educação no Brasil. O sistema educacional está pulverizado entre municípios, estados e escolas privadas, dificultando a aplicação uniforme da medida. Com mais de 6.000 escolas fora da alçada do governo federal, a proibição dos celulares pode se tornar apenas mais uma norma sem grande impacto prático.
Historicamente, leis federais que dependem da implementação local tendem a ter resultados limitados, funcionando de forma fragmentada e sem uma estratégia nacional consolidada. A falta de planejamento de longo prazo faz com que a educação continue sendo tratada como um assunto de governo, e não de Estado, sem políticas duradouras para garantir excelência e equidade no ensino.
Uma medida sem impacto significativo
Apesar da boa intenção, a proibição do uso de celulares na escola carece de ambição e pragmatismo. Sem um plano concreto para modernizar o ensino e adaptar a educação à realidade digital, os efeitos da nova legislação tendem a ser mínimos. Pode até ser uma medida simbólica, mas está fadada a ser ineficaz do ponto de vista pedagógico.
O descaso com a educação ficou evidente na forma como a medida foi tratada: enquanto a reforma fiscal foi celebrada com grande alarde em Brasília, o anúncio da restrição dos celulares ocorreu em um evento discreto no gabinete presidencial. Isso transmite uma mensagem clara: a educação segue como um tema secundário, sem prioridade dentro da agenda nacional.
O futuro da educação não pode se limitar à repressão do uso da tecnologia, mas sim à incorporação de ferramentas digitais para tornar o aprendizado mais interativo e eficaz. A simples proibição dos celulares pode parecer uma solução moderna, mas na prática, trata-se de um retrocesso que ignora as demandas do mundo atual.