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Morre aos 88 anos Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco

Faleceu nesta segunda-feira, aos 88 anos, Jorge Mario Bergoglio, conhecido mundialmente como papa Francisco. A Santa Sé confirmou o óbito, apontando um acidente vascular cerebral e falência cardíaca como as causas.

por Editoria Democracias

Faleceu nesta segunda-feira, aos 88 anos, Jorge Mario Bergoglio, conhecido mundialmente como papa Francisco. A Santa Sé confirmou o óbito, apontando um acidente vascular cerebral e falência cardíaca como as causas.

“Queridos irmãos e irmãs, é com dor no coração que anuncio o falecimento de nosso Santo Padre Francisco. Às 7h35 de hoje, o Bispo de Roma, Francisco, foi chamado à eternidade. Sua existência foi integralmente dedicada ao serviço divino e à missão da Igreja”, comunicou o Vaticano.

O líder católico vinha enfrentando complicações respiratórias que exigiram sua hospitalização por 37 dias, entre fevereiro e março deste ano. Ainda assim, fez uma aparição pública ontem, no Domingo de Páscoa, para conceder sua bênção aos fiéis na Praça de São Pedro, em Roma.

Seguindo o protocolo tradicional, o funeral será iniciado na Basílica de São Pedro. O corpo do pontífice — o primeiro nascido na América Latina a liderar a Igreja — será velado, permitindo que os devotos se despeçam com preces. A cerimônia de despedida culminará com a missa de exéquias na mesma praça.

Em abril de 2024, o próprio Francisco surpreendeu ao afirmar que tudo já estava preparado para seu sepultamento. Ele determinou mudanças nos ritos funerários papais, excluindo a exibição do corpo fora do esquife.

Naquela oportunidade, revelou que seu corpo seria exibido no interior do caixão, ao contrário do costume anterior de dispor os restos mortais sobre um catafalco. Reiterou ainda o desejo de ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, rompendo com o enterro habitual na Basílica de São Pedro, onde repousam 91 papas.

O estado de saúde do pontífice se agravou visivelmente a partir de maio de 2022, quando foi visto pela primeira vez em uma cadeira de rodas, por conta de dores no joelho. “Tenho um ligamento rompido, farei infiltrações e veremos como evolui. Já estou assim há algum tempo, e não consigo caminhar”, declarou na ocasião.

Em seguida, continuou sendo conduzido na cadeira, o que reforçou especulações da imprensa internacional sobre sua condição física debilitada.

Em novembro de 2023, o pontífice cancelou uma viagem à cúpula climática COP28, em Dubai, em decorrência de gripe e inflamação nos pulmões. Já em janeiro de 2024, interrompeu um pronunciamento devido a uma “leve bronquite”, como relatou ele mesmo.

A doença retornou com força em fevereiro de 2025, quando, mais uma vez, não conseguiu terminar uma celebração e delegou a leitura a um auxiliar. Foi então internado para uma intervenção médica considerada “complexa”.

Francisco deixou o hospital em 23 de março, após mais de um mês sob cuidados médicos intensivos, tratando-se de um severo comprometimento respiratório.

A escolha de Jorge Mario Bergoglio como o 266º pontífice da Igreja Católica representou um marco. Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, ele foi o primeiro sul-americano a assumir o trono de Pedro.

Também foi o pioneiro jesuíta a se tornar papa. Formado em química pela Universidade de Buenos Aires, ingressou na Companhia de Jesus em 1958 e, posteriormente, licenciou-se em Filosofia na Faculdade de São Miguel. Seu doutorado em Teologia foi concluído na cidade de Freiburg, Alemanha.

Ordenado padre em 1969, trabalhou na Argentina antes de lecionar teologia, a partir de 1980, na mesma faculdade, onde permaneceu até 1986.

Em 1992, foi nomeado bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires. Ascendeu ao posto de arcebispo da capital argentina em 1998 e foi elevado a cardeal por João Paulo II em 2001. Sua eleição como papa ocorreu em 14 de março de 2013, aos 76 anos.

O novo pontífice sempre opta por um nome simbólico para seu mandato. Francisco escolheu homenagear São Francisco de Assis, conhecido por sua dedicação aos marginalizados e por sua postura crítica em relação aos excessos da Igreja.

A fumaça branca do conclave apareceu em 13 de março de 2013. “Irmãos e irmãs, boa noite”, disse o novo papa, trajando apenas a batina branca. “Parece que meus colegas cardeais foram buscar o novo bispo de Roma quase no fim do mundo. Aqui estamos.”

Com essa saudação simples, apresentou-se como Francisco, evocando o santo que viveu entre os pobres, usava roupas humildes e defendia uma Igreja despojada e próxima do povo.

Logo em sua estreia, fez uma pausa em silêncio, inclinou-se e solicitou orações da multidão. Mais tarde, esclareceu a inspiração por trás do nome escolhido. “Como eu gostaria de uma Igreja pobre para os pobres”, revelou, recordando o conselho do cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes: “Não se esqueça dos pobres.”

Inspirado em São Francisco de Assis, o papa buscou reformular a Igreja para torná-la mais acessível e próxima do povo. Recusou-se a residir no Palácio Apostólico e preferiu um quarto na Casa Santa Marta, no Vaticano.

Durante o conclave, Bergoglio não era visto como favorito. Após a renúncia inédita de Bento XVI, em fevereiro de 2013, o Colégio de Cardeais buscava alguém que rompesse com a burocracia da Cúria Romana sem afastar-se do legado teológico do papa emérito.

No discurso que selou sua escolha, Bergoglio defendeu que a Igreja precisava alcançar tanto as periferias geográficas quanto as existenciais. “A Igreja autorreferencial age como se Cristo estivesse trancado dentro dela”, disse, apelando por uma abertura missionária.

Sua atuação pastoral foi fortemente influenciada por sua vivência na Argentina, especialmente durante o regime militar. Participou ativamente da redação do Documento de Aparecida, em 2007, que propunha uma evangelização mais pessoal e comunitária.

Francisco foi interpretado como um líder mais progressista que seus antecessores. Em 2023, o Vaticano autorizou a participação de mulheres e leigos com direito a voto em sínodos.

Em agosto daquele ano, declarou que mulheres trans também são “filhas de Deus”, rememorando o primeiro encontro com um grupo no Vaticano. “Elas choraram, dizendo que eu as cumprimentei, dei um beijo… Como se fosse algo extraordinário. Mas são filhas de Deus!”

Em novembro, a Santa Sé permitiu que pessoas trans fossem batizadas e apadrinhassem, com critérios. A decisão foi ratificada por Francisco, após questionamento do bispo brasileiro José Negri.

Apesar disso, o documento advertiu contra escândalos públicos e ressaltou que a decisão final caberia aos párocos, que deveriam agir com prudência.

Em dezembro, autorizou bênçãos a casais homoafetivos e em uniões consideradas irregulares pela doutrina, sem abrir espaço para o casamento sacramental entre pessoas do mesmo sexo.

As decisões causaram desconforto em setores conservadores. Em fevereiro de 2024, foi publicado um documento com propostas para “corrigir” os rumos do papado atual, em preparação para o próximo conclave.

Por seu perfil voltado ao povo, Francisco enfrentou oposição de alas tradicionalistas. Suas críticas ao modelo econômico vigente, qualificado por ele como “uma economia que mata”, geraram controvérsias.

Ele instituiu o C9, um grupo de cardeais consultores, e promoveu uma reestruturação que ampliou a transparência financeira e reduziu privilégios clericais. Permitiu a presença de leigos e mulheres em funções de destaque e eliminou condecorações automáticas.

Afirmava que a Cúria Romana mantinha um espírito aristocrático nocivo à Igreja. Em entrevista de 2019, classificou-a como “a última corte absolutista da Europa”. Francisco desejava uma Igreja feita de “pastores com cheiro de ovelhas”.

Durante a pandemia de covid-19, sua imagem sozinho na Praça de São Pedro ficou marcada na memória coletiva.

“Compreendemos que estamos todos no mesmo barco, frágeis e confusos, mas igualmente relevantes e convocados a remar juntos”, declarou. Em outubro, lançou sua segunda encíclica, Fratelli Tutti, conclamando a humanidade à solidariedade e ao cuidado comum, especialmente por meio da “amizade social”.

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