A reeleição de Ricardo Nunes à Prefeitura de São Paulo, consolidada no último domingo (27/10) com cerca de 60% dos votos, foi interpretada nos bastidores políticos como uma vitória decisiva do governador Tarcísio de Freitas, do partido Republicanos. O próprio prefeito, ao lado do governador, enalteceu o papel de Tarcísio, chamando-o de “grande vencedor” da disputa e reconhecendo que seu sucesso nas urnas seria inviável sem o apoio do governador. Durante o discurso de comemoração, Nunes afirmou que está à disposição para contribuir com “todas as construções do seu destino”, referindo-se ao futuro político de Tarcísio.
Nunes ainda elogiou o governador, dizendo que “seu nome é presente, mas seu sobrenome é futuro”, sinalizando a crescente projeção de Tarcísio no cenário político nacional. O ex-presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, foi mencionado de forma discreta, apenas para reconhecer a indicação do vice-prefeito, Coronel Mello Araújo (PL).
Tarcísio destacou a reeleição de Nunes como resultado de uma “frente ampla” que foi formada, composta por 12 partidos que integraram a coligação vitoriosa. Essa construção foi vista como um marco da atuação de Tarcísio, que, além de se envolver profundamente na campanha de Nunes em momentos críticos, destacou a importância das lideranças que compõem essa aliança.
A atuação de Tarcísio foi decisiva, especialmente quando Nunes enfrentava dificuldades nas pesquisas, ameaçado pelo avanço de Pablo Marçal (PRTB). A postura do governador, que contrariou conselhos de Bolsonaro de se distanciar de Nunes, foi amplamente vista como um gesto de lealdade, reforçando sua importância estratégica na campanha. Ao lado de Nunes no palco da vitória, também estavam figuras centrais da política, como o deputado Baleia Rossi, presidente do MDB, e Gilberto Kassab, presidente do PSD, ambos com papéis cruciais na consolidação da base de apoio ao prefeito.
Gilberto Kassab, que se afastou do bolsonarismo, tornou-se uma figura influente no governo Tarcísio, ao mesmo tempo que o PSD apoia o governo federal de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Por outro lado, Baleia Rossi, que apoiou Lula no segundo turno de 2022, aproveitou a ocasião para criticar, de forma indireta, lideranças políticas que se afastam em momentos difíceis, uma clara alusão a Bolsonaro.
O MDB e o PSD foram os partidos que mais elegeram prefeitos nas eleições municipais deste ano, com 887 e 856 prefeituras, respectivamente. O Republicanos, partido de Tarcísio, elegeu 435 prefeitos, consolidando-se como uma força relevante. Essa coalizão, agora fortalecida, projeta um grupo político sólido em torno de Tarcísio, especialmente no estado de São Paulo.
Com Bolsonaro inelegível até o momento, Tarcísio desponta como o nome mais forte para uma possível candidatura à Presidência em 2026. A vitória de Nunes na maior cidade do país multiplicou o capital político do governador, elevando seu status como um presidenciável em potencial. Contudo, Tarcísio tem mantido cautela em seus comentários, afirmando que ainda é cedo para discutir sucessão presidencial e manifestando sua intenção de disputar a reeleição ao governo estadual em 2026, uma disputa que seus aliados consideram segura.
Na segunda etapa de seu mandato, Tarcísio contará com prefeitos aliados nas principais cidades do estado, como Guarulhos, Campinas e São Bernardo do Campo, todos considerados cruciais para as disputas eleitorais. Esses prefeitos servirão como importantes cabos eleitorais nas eleições regionais e possivelmente na construção de uma candidatura presidencial.
No entanto, aliados do governador alertam que, se a popularidade de Lula começar a cair e Tarcísio aparecer com bons índices nas pesquisas, a pressão por uma candidatura presidencial poderá aumentar significativamente.
Tarcísio tem publicamente reconhecido sua “gratidão eterna” a Bolsonaro por tê-lo lançado como candidato ao governo paulista em 2022, apesar de suas raízes no Rio de Janeiro e em Brasília. No entanto, a eleição de Nunes simboliza uma crescente autonomia política do governador, que agora navega com maior independência, consolidando seu espaço no cenário político nacional.
O papel de Tarcísio na campanha de Nunes foi determinante desde o início. Foi ele quem negociou, ainda em dezembro do ano passado, o apoio de Bolsonaro a Nunes, com a exigência de que o Coronel Mello Araújo fosse confirmado como vice-prefeito. Essa aliança, embora inicialmente incerta, foi consolidada com a ajuda do governador.
Mesmo com o ceticismo de Bolsonaro quanto às chances de vitória de Nunes, Tarcísio permaneceu firme ao lado do prefeito, intensificando sua participação na campanha, gravando programas eleitorais e participando de atos públicos. Sua atuação foi além da presença em eventos, organizando jantares e participando de cultos religiosos para mobilizar o eleitorado, mesmo sem a presença de Nunes.
No segundo turno, com Boulos como adversário, Tarcísio adotou uma estratégia menos intensa, diminuindo a quantidade de aparições públicas com o prefeito. Contudo, manteve as articulações nos bastidores, promovendo encontros entre Nunes e Bolsonaro, como um almoço com empresários conservadores no Morumbi, na zona oeste da capital.
Com a vitória de Nunes, Tarcísio elimina barreiras para a implementação de programas que podem servir como vitrine eleitoral, seja para uma futura reeleição como governador ou para uma possível candidatura à Presidência da República. Entretanto, seus aliados mantêm silêncio sobre qual será a escolha final de Tarcísio para 2026, mas reconhecem que sua força política está em ascensão.
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