A reeleição de Ricardo Nunes à Prefeitura de São Paulo, consolidada no último domingo (27/10) com cerca de 60% dos votos, tem sido amplamente vista como uma vitória estratégica do governador Tarcísio de Freitas. O próprio Nunes, ao comemorar o resultado, referiu-se a Tarcísio como o “grande vencedor” da disputa, destacando o papel crucial do governador em sua campanha, especialmente nos momentos críticos.
Durante o primeiro encontro público após a derrota de Guilherme Boulos (PSOL), Nunes não poupou elogios a Tarcísio, referindo-se a ele como o “líder maior” e enfatizando que sua reeleição só foi possível graças ao apoio do governador. Ele também fez um aceno ao futuro político de Tarcísio, afirmando que seu nome já é presente, mas seu sobrenome é “futuro”, sinalizando que o governador deve se consolidar como uma figura central no cenário político nacional em 2026.
Curiosamente, Jair Bolsonaro, que teve um papel tímido na campanha de Nunes, foi mencionado de maneira discreta, apenas em referência à indicação do vice-prefeito, o Coronel Mello Araújo. Em contraste, Tarcísio destacou a construção de uma ampla coalizão partidária em torno de Nunes, que contou com o apoio de 12 legendas. Ao não mencionar Bolsonaro, o governador pareceu reforçar sua independência política, algo que tem sido observado desde o início de seu mandato.
Tarcísio teve um papel determinante na campanha de Nunes, mergulhando de cabeça quando o prefeito enfrentava dificuldades nas pesquisas, especialmente com o crescimento da candidatura de Pablo Marçal (PRTB). Ao contrário do conselho de Bolsonaro, que sugeriu o distanciamento de Nunes, Tarcísio permaneceu ao lado do prefeito, o que foi visto como um gesto de lealdade e, agora, como uma estratégia vitoriosa.
A vitória de Nunes também reuniu importantes figuras políticas ao lado de Tarcísio, como o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi, e o secretário estadual de Governo, Gilberto Kassab, presidente do PSD. Enquanto Kassab se tornou uma figura distante do bolsonarismo em São Paulo, Baleia, que apoiou Lula no segundo turno das eleições de 2022, criticou indiretamente Bolsonaro ao comentar sobre lideranças que se afastam em momentos difíceis.
No campo político, a vitória de Nunes fortalece a posição de Tarcísio e abre caminho para a formação de um grupo político em torno do governador, com alianças que incluem MDB, PSD e Republicanos. Esses partidos, que elegeram o maior número de prefeitos no estado de São Paulo, tendem a consolidar essa base em torno de Tarcísio para as eleições de 2026.
Com Bolsonaro inelegível, Tarcísio já desponta como um dos nomes mais fortes para disputar a Presidência em 2026, algo que tem sido comentado nos bastidores. No entanto, o governador mantém um discurso de que ainda é cedo para discutir o tema, afirmando que sua prioridade no momento é a reeleição para o governo paulista em 2026, o que, segundo seus aliados, seria uma disputa tranquila.
A eleição de Nunes em São Paulo, a maior cidade do país, consolidou a autonomia política de Tarcísio, que agora conta com aliados estratégicos nas maiores prefeituras do estado, como Guarulhos, Campinas e São Bernardo do Campo. Esses prefeitos são vistos como peças-chave para futuras disputas eleitorais, incluindo uma possível candidatura presidencial de Tarcísio, dependendo do cenário político nos próximos anos.
Embora Tarcísio tenha expressado gratidão por Bolsonaro, por tê-lo lançado como candidato ao governo paulista em 2022, sua atuação na campanha de Nunes indica uma crescente independência política. Essa vitória em São Paulo, aliada à sua presença em importantes prefeituras do estado, posiciona o governador como uma figura central para as eleições presidenciais de 2026, especialmente se o cenário se mostrar favorável, com uma possível queda na popularidade do presidente Lula.
Tarcísio também foi fundamental nas negociações que garantiram o apoio de Bolsonaro a Nunes, exigindo a nomeação de Coronel Mello Araújo como vice na chapa. Apesar do ceticismo inicial de Bolsonaro quanto às chances de Nunes, Tarcísio permaneceu firme em seu apoio e intensificou sua participação na campanha, o que incluiu desde gravações para o horário eleitoral até a presença em eventos religiosos.
No segundo turno, com Boulos como o principal rival, Tarcísio adotou uma estratégia menos intensa, mas continuou articulando encontros importantes entre Nunes e Bolsonaro. Um desses encontros ocorreu em um almoço com empresários conservadores, reforçando a importância de manter aliados próximos.
Agora, com um aliado de confiança na Prefeitura de São Paulo, Tarcísio terá menos obstáculos para implementar políticas que possam ser vitrine eleitoral para as próximas disputas. O que ainda não está claro é se esse esforço será capitalizado para sua reeleição como governador ou se culminará em uma candidatura à Presidência da República em 2026.
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