O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, exibiu sinais evidentes de nervosismo ao prestar depoimento ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Durante a audiência, realizada por videoconferência, Cid apresentou mãos trêmulas, suor excessivo e uma expressão visivelmente apreensiva enquanto respondia às perguntas de Moraes e do procurador-geral da República, Paulo Gonet.
O vídeo da oitiva, que teve seu sigilo levantado nesta quinta-feira (20/2), revela momentos de tensão em que Cid tenta reforçar a veracidade das informações prestadas à Polícia Federal no âmbito de seu acordo de delação premiada. O militar utilizou um lenço para secar as mãos suadas e, em diversos momentos, olhou para os próprios dedos trêmulos, dobrando e desdobrando o pedaço de pano enquanto falava.
Suspeita de omissão e mudança de versão
A audiência ocorreu em 21 de novembro de 2024, após a Polícia Federal informar Moraes sobre a possibilidade de Cid ter sido omisso em declarações anteriores. Entre os pontos investigados, estava o plano denominado “Punhal Verde e Amarelo”, que, segundo a PF, visava atentar contra a vida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do próprio ministro do STF.
Além disso, a corporação teria identificado atividades de monitoramento de Moraes, elemento que reforçaria a gravidade do caso. Contudo, segundo os investigadores, Cid teria inicialmente omitido detalhes sobre esses fatos. Diante da pressão da Justiça, o ex-ajudante de ordens acabou mudando sua versão na audiência do dia 21.
Moraes alerta sobre consequências da delação
Antes do início das perguntas, Moraes fez questão de relembrar a Cid os compromissos assumidos em seu acordo de colaboração premiada. O ministro enfatizou que a efetividade da delação era um critério fundamental para garantir os benefícios previstos no pacto.
“Se não houver efetividade da colaboração, se a colaboração em nada auxiliou, não há por que, dentro dessa ideia de justiça colaborativa, a justiça premial, se dar os benefícios”, alertou Moraes, ressaltando que a omissão de informações poderia acarretar sanções severas.
Ao final do depoimento, Moraes questionou a Procuradoria-Geral da República sobre a necessidade de decretar a prisão preventiva do delator, em função das inconsistências apontadas pela Polícia Federal. No entanto, Gonet considerou que a audiência havia sido suficiente para esclarecer os fatos e afastar a necessidade imediata de prisão.
“Acho que essa audiência demonstrou uma disposição suficiente para o esclarecimento de fatos, inclusive com explicação do grau de conhecimento direto que o colaborador tinha dos acontecimentos, dos eventos. Isso eu acho que parece neutralizar o pressuposto para o pedido de prisão. Então, numa nova manifestação, agora já em audiência, eu sugeriria que a prisão não fosse decretada”, declarou o procurador-geral.
Com isso, Mauro Cid evitou, ao menos por enquanto, uma prisão preventiva, mas segue sob monitoramento das autoridades em relação ao cumprimento de seu acordo de delação premiada.
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